"A equipe pode estar bem fisicamente e não
jogar bem. O estado de forma é algo muito mais complexo do que a forma física."
Esta frase, pertencente a Rui Faria, e é a melhor
frase para começar este post.
Desde a instauração da periodização
tática no futebol no início do milênio já passou mais de uma década,
mas mesmo assim ainda não passou tempo suficiente para o treino ser
compreendido como treino coletivo.
Em vez disso, ainda é compreendido como
treino individual ou treino do grupo.
Vamos ver isso.
A forma física define-se pela capacidade do atleta
em percorrer grandes distâncias, fazer movimentos rápidos e ágeis, entre
outros.
Mas será que esse é o objetivo do
treino de uma modalidade coletiva como o futebol?
Obviamente que não. Uma modalidade coletiva não se
distingue das restantes modalidades pela capacidade de explosão de cada um dos
jogadores, mas pela capacidade de comunicação dessa equipe.
Existe uma grande diferença entre alcançar a forma
física e a forma competitiva.
Qualquer atleta precisa de estar em forma para
jogar e ter força para aguentar um jogo. É com toda a razão que a forma do
atleta deve ser buscada, pois afinal de contas, se o atleta não estiver
fisicamente preparado para jogar, não pode alcançar a forma competitiva. O treino
intenso e contínuo e principalmente o treino específico duma zona do corpo do
atleta, zona essa necessária para a competição, é uma das melhores formas de
alcançar a forma física.
Mas o futebol não é um esporte cujo objetivo é
alcançar a meta antes dos restantes jogadores. Isso é atletismo.
O futebol é um jogo coletivo, onde a meta é um gol,
é fazer a bola balançar as redes , e para isso é preciso percorrer todo o
espaço (campo) e adversário para alcançar essa meta.
Assim, o treinador não deve focar-se na forma
física dos jogadores. Deve avaliar todas as condições para implantar o seu
modelo de jogo, como a competição, a filosofia do
clube e as caraterísticas dos atletas, e então desenhar um plano de
treino que possa servir essas necessidades. Isto é, escolher exercícios
específicos para a sua forma de jogar, assim como exercícios interligados entre
si, não só para instaurar a sua forma de jogar, como de evoluí-la.
O treinador deve orientar o treino para as
movimentações que pretende da equipe, uma vez que simples mini-jogos ou repetir
várias vezes a mesma movimentação, sempre a pedir aos jogadores para fazer isto
e aquilo, não é uma forma de treinar. A mente humana aprende quando algo é
ensinado, mas precisa da prática para evoluir.
Então, se o treinador busca a forma competitiva,
deve desenhar um exercício, exigir condições para esse exercício e treinar os
atletas. Se pretender uma jogada rápida e eficaz, não adianta colocar os
jogadores para dar milhares de voltas no campo e exigir que marquem gols. Irá criar
condições ideais, que formem uma criação rápida, com oposição, e premiar os
jogadores por concluir a jogada, não por marcar gol.
Se pretendermos marcar gol, não vai criar um
exercício de transição e finalização, porque nem sempre uma equipe conseguirá
aproximar-se da baliza. O que de fato acontece, é que ao exigir verbalmente o
gol, mas exigir no treino a transição/criação está a exigir duas coisas
completamente diferentes e a difundir o objetivo a que propôs o treino.
Se pretender treinar a transição, então treine a
transição. Se pretender treinar a finalização, então treine a finalização.
No fim é que juntamos os dois momentos e solidifica
a equipe. Se o treinador orientar bem o treino, não terá que preocupar-se com
as exigências da competição, porque mesmo os piores modelos de jogo bem
treinados apresentam melhores resultados que os melhores modelos de jogo mal
treinados.
O jogo exige diferentes comportamentos em
diferentes momentos. Ocupação de espaços, movimentações, toques de bola,
apoios, tudo isto é futebol e deve ser o desejo dos jogadores. O gol é o desejo
de todos os jogadores, é o premio oferecido aos jogadores pela sua forma
competitiva.
Então, o treinador deve treinar a sua equipe
perante as exigências do futebol em vez das exigências pessoais.
Por vezes o
futebol bonito não vence adversário. Por outro lado, o futebol organizado VENCE
adversários, e é preciso que um adversário seja muito superior para quebrar
todas as barreiras bem organizadas, formadas por uma equipe.
Resumidamente o texto deixa claro que o treino é 99% da essência de um time vencedor, então não adianta termos um bom preparo físico e nada de preparo competitivo (treino).
Abração;
Conrad